De um internauta para outro #3: a pergunta que fica
Eu não sei se eu realmente não sei nada
Você deve estar se perguntando por onde estive nas últimas semanas. Se não estiver se perguntando, ou você me segue no BlueSky e não sentiu falta desse boletim, ou não se importa tanto assim comigo e está tudo bem se for o caso… ou você é do time de pessoas que são o tema da edição de hoje.
Dino Crisis
Certa vez eu estava assistindo TV com algumas pessoas, quando começou uma daquelas séries que o Fantástico compra da BBC. Era sobre a vida dos dinossauros, com animais roteirizadas com um narrador para descrever o drama criado. “E agora o pequeno T-Rex tinha que seguir sua jornada… sozinho!”. Até que em certa altura, uma das pessoas ao meu lado pergunta:
COMO É QUE ELES SABEM QUE ACONTECEU ASSIM?
É uma pergunta justa, do tipo que todos se fazem, na maior parte das vezes em silêncio. Quando você para e pensa como eles concluíram que os dinossauros tinham aquela forma, e tendo aquela forma como se movimentavam, se alimentavam, se relacionavam.
Mas logo percebi que era uma pergunta retórica, que é basicamente uma afirmação com uma interrogação no fim. A pessoa acreditava já saber a resposta e era bem simples: era mentira. Estavam inventando tudo aquilo, desde a existência dos dinossauros, passando por sua aparência e, principalmente, a narrativa mostrada na animação. Essa última de fato era inventada e é por isso que esse tipo de pessoa chama ficção de “mentirada”.
E as outras pessoas pareciam aliviadas por ouvir aquilo. Elas também tinham lacunas de conhecimento e não compreendiam exatamente o que estavam vendo e como se chegou àquilo. Tentei explicar, mas nesses casos acabo sempre mais confundindo, já não tenho didática alguma. Então ao citar coisas como “carbono 14”, parecia que eu também estava inventando aquilo.
Naquele dia, venceu a tese de que dinossauros são uma invenção da mídia.
Kerbal Space Program
Situação semelhante pode ser observada quando algum país anuncia o envio de uma missão espacial. O custo de se enviar uma sonda para Marte, por exemplo, orbita na casa dos bilhões de dólares, assim, no plural. E a divulgação desse valor, solto, sempre leva muitos à confusão.
Por que enviar esse dinheiro todo para o espaço com tanta gente passando fome?
Novamente uma pergunta justa, cujo a reflexão honesta levaria a respostas aceitáveis. Mas novamente, uma pergunta retórica, uma afirmação indignada com a ideia de desperdiçar tamanho montante.
O pensamento crítico de como e onde esse dinheiro foi gasto, quantas e quais serão os avanços científicos e como eles impactam no dia a dia ou mesmo por qual razão que gastam essa quantia.
O senso individual é algo que sempre busca o caminho mais fácil e este fica abaixo do bom e até um pouco abaixo do comum. É o senso de estar certo sem gastar energia para pensar.
My Friend Pedro
Mas a grande campeã nesse quesito sem dúvidas é a obra de arte conceitual Comedian, a famosa banana presa na parede com uma fita adesiva prateada. É comum que artes desse gênero levem a conclusões negativas sumarias, a maioria questionando a validade daquilo enquanto arte e se houver algum valor financeiro envolvido, isto também será questionado.
Mas essa obra é mais interessante porque imediatamente chama atenção. E por chamar atenção, leva a mais questões. E muitas perguntas retóricas de quem não sabe e nem quer saber do que está falando. Ainda mais após ter sido vendida por um valor astronômico.
Por que isso é arte? Por que gastaram essa absurdo nisso? Por que pagaram tudo isso em algo que qualquer pessoa pode fazer? Quem disse que isso é arte?
Essa revolta que algo supostamente tão simples gera poderia ser aprofundada. Afinal se o comprador comeu a banana e a fita é trocada sempre, o que é a arte? O comprador, um daqueles ridículos entusiastas de criptomoedas, disse que comprou o conceito, mas se o conceito é tão valioso, porque o criador do conceito não recebeu nada nessa venda?
Se o conceito é valioso e público, ou seja, pode ser replicado com fidelidade em qualquer lugar do mundo por qualquer pessoa, sem prejuízo ao criador da obra, afinal ele já não tem direito qualquer sobre ela, por que respeitar a posse deste conceito? Por que permitir que alguém que jamais criaria algo assim explore financeiramente essa ideia?
A banana presa na parede com uma fita é uma obra de arte, porque nos faz questionar desde as coisas mais básicas como “por que essa banana está na parede?” até as coisas mais profundas como “se o trabalhador toda a banana, o silver tape e o conceito artístico produz, a ele tudo pertence?”.
Goodbye Deponia
Assisti, finalmente, “A Substância”. Gostei do modo como contaram a história, mas não da história em si. Porque a Demi Moore é candidata ao Oscar por esse papel junto com outras ótimas e valorizadas atrizes… que estão na casa dos 50 anos. Como se isso não bastasse para esvaziar a mensagem do filme do modo que colocam, ainda vira uma comédia de horror da metade para o final.
Mas é um filme, com certeza.
Por outro lado, assisti “O Robô Selvagem”, um filme que não prometia nada e entregou tudo.
Ouvi um álbum aí, mas vou deixar para falar dele no próximo boletim.
Um abraço!